segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Saudade" - Augusto dos Anjos




Hoje que a mágoa me apunhala o seio,

E o coração me rasga atroz, imensa,

Eu a bendigo da descrença, em meio,

Porque eu hoje só vivo da descrença.


À noute quando em funda soledade

Minh'alma se recolhe tristemente,

P'ra iluminar-me a alma descontente,

Se acende o círio triste da Saudade.


E assim afeito às mágoas e ao tormento,

E à dor e ao sofrimento eterno afeito,

Para dar vida à dor e ao sofrimento,


Da saudade na campa enegrecida

Guardo a lembrança que me sangra o peito,

Mas que no entanto me alimenta a vida.


         




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