quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"Soneto do Só" (Parábola de Malte Laurids Brigge) - Vinícius de Moraes

          Depois foi só. O amor era mais nada
          Sentiu-se pobre e triste como Jó
          Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada
          Espantado, parou. Depois foi só.

          Depois veio a poesia ensimesmada
          Em espelhos. Sofreu de fazer dó
          Viu a face do Cristo ensanguentada
          Da sua, imagem - e orou. Depois foi só.

          Depois veio o verão e veio o medo
          Desceu de seu castelo até o rochedo
          Sobre a noite e do mar lhe veio a voz

          A anunciar os anjos sanguinários...
         Depois cerrou os olhos solitários
        E só então foi totalmente a sós.













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