sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

"Delírios aristotélicos"

Sentado, a olhar o mundo do meu banco
De estimação, na praça mais querida,
Meus olhos, de repente, eu estanco
A ver o espetáculo da vida...
As árvores e flores, tudo arranco
Co'a força aristotélica pulsante
De seu tratado sobre a Metafísica,
Que extrai do ergástulo do barro o guante
À mostra da pureza paradísica...

O psicobiofísico modelo
É a causa essencial de todo ente
A se mostrar ao mundo com tal zelo,
No lapidar do Ser pré-existente...
Eu vejo a planta, o animal, o gelo
E sei que esta "causa" mais confunde
Ao misturar a "forma" e o "Formador"
E o pensamento infante assim contunde
Causando do intelecto grande dor...

Volvendo à terra os olhos muito ávidos,
Percebo folhas chãs de xantofila.
Nas bordas, proliferam-se, impávidos,
Os decompositores, em sua fila,
Deixando, aos milhares, rincões grávidos...
A bioquímica dos nunca vistos
Dá conta das restantes causas primas
Guardando e ora fervendo nos seus cistos
O que a razão não diz em pobres rimas...

Formal, a causa-essência de outra causa,
A Material, que é feita em finitudes,
A Eficiente, dona de hausto e pausa,
A Causa cáusica das amplitudes
Que espera, Creadora, o ser concausa
De nós, os seres vivos, Causa-fim...
Já de Aristóteles, o ser flamívomo,
Não sinto a aura neste meu jardim
E o verbo cônscio, puro e ignívomo...

Nenhum comentário: