terça-feira, 13 de outubro de 2009

Coisas Insignificantes

          Nem sempre há assunto sério sobre o que escrever, e estou certo de que nessa ocasião pode-se aquilatar o desvario de uma pessoa. Eu poderia discorrer sobre o acúmulo de debris celulares no humor vítreo de meus olhos, as moscas volantes, ou simplesmente moscas, que me acompanham desde a infância, sendo motivo de distração, às vezes. Às vezes, porque o se concentrar nelas por muito tempo pode desencadear uma crise de ansiedade e até de certa angústia, uma vez que elas nunca desaparecerão. O grande segredo para mim foi descobrir que, mexendo os olhos ou mesmo a cabeça, os "monstrinhos" deslocam-se, já que nadam em verdadeira geleia; ao menos, é permitido vê-los em pontos diferentes. O difícil é pensar "não os verei"! Estarei condenado à sua companhia enquanto neles pensar. Nessas horas, sempre imagino o drama de quem padece de cisticercose ocular... Reconheço que é pura neurose e que posso ser taxado de vagabundo por não ter mais nada a fazer.
          Outra coisinha triste é pensar no Infinito, assim grafado como entidade independente. Lembro-me das aulas de Matemática ouvindo as primeiras professoras explicando que os números são infinitos à direita do zero e, mais tarde, também o eram à esquerda do zero. Pior, descobri que entre dois números, naturais ou não, há infinitas possibilidades! Ainda me vejo, nas noites insones, construindo espirais com os números sem encontrar o fim para a árdua viagem. Pelo menos, é ocorrência noturna e, de qualquer forma, se eu contasse carneirinhos, imediatamente viria à mente o fato de que posso passar a noite contando-os, sem fim. Quando paro para pensar na infinitude da vida então, tenho a sensação de que minha mente é um grande polvo que carece de coordenação motora e abraça-se continuamente, esmagando-se sem atingir sua meta. Acabo de ter um insight de que talvez seja mais do que neurose...
          Uma façanha de que descobri ser possuidor é a de ver, espontânea ou deliberadamente, rostos humanos em qualquer superfície para onde dirija meu olhar. É sempre mais fácil quando o fenômeno é espontâneo. Sou acompanhado por tal "dádiva" desde muito pequeno, o que posso fazer? Grande negócio é não pensar que é uma mensagem do Além. Não é! A saída é olhar para os pequenos e por vezes decompostos rostos, imaginando-os por exemplo como esboços e ensaios de grandes pintores e escultores, ou simplesmente como - acharam que eu diria loucura? - desarmonia com o pensar dominante.
          Poderia - como vocês também - contar inúmeros fatos semelhantes, somente para descobrir que, embora haja indivíduos a quem a Vida dotou de inúmeras responsabilidades, a da grande maioria, de que faço parte, tem a sua repleta de coisas insignificantes mas que lhe emolduram o ser e fazem de cada um universo particular.
          Por hoje basta!     

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