sábado, 19 de dezembro de 2009

Alphonsus de Guimaraens Filho

          Primeiramente, deixo endereço de site que merece (e deve) ser lido, a respeito do grande poeta que, em nenhum momento "ficou à sombra do pai": http://aiuslocutius.wordpress.com/2008/08/30/a-morte-de-alphonsus-de-guimaraens-filho-e-o-nosso-analfabetismo-literario/

          Transcrevo, como homenagem (que será sempre incompleta) um pequeno poema do Gigante (talvez não o mais expressivo mas, se a poesia tem ao menos uma vantagem, é o fato de poder "ser grande ou pequena" conforme o leitor). Ei-lo ("Sequência"):


          Os bois mugem para a grande
          solidão que os agasalha.
          (Os homens acham na paz
          do campo a paz que apunhala.)

          Os cães uivam para a lua
          um uivo fino e ofegante.
          (Os homens padecem a lua
          e a dor em canto se expande.)

          Os gatos choram na noite
          como em fundo sofrimento.
          (Os homens padecem a noite
          uma outra noite antevendo.)

          As traças devoram a vida,
          papirógrafos sem pressa.
          (Os homens se dão aos livros
          e a vida, como lhes pesa!)

          Os ratos pelos armários
          deixam apenas fragmentos.
          (Os homens se dilaceram,
          as próprias cinzas temendo.)

          E a vida só se asserena,
          se atenua, se aquieta,
          quando num rosto cansado
          sombra, apenas, se dispersa.


Poema retirado do livro "O Tecelão do Assombro" (Editora 7 Letras, 2000, p. 28)


         

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