Primeiramente, deixo endereço de site que merece (e deve) ser lido, a respeito do grande poeta que, em nenhum momento "ficou à sombra do pai": http://aiuslocutius.wordpress.com/2008/08/30/a-morte-de-alphonsus-de-guimaraens-filho-e-o-nosso-analfabetismo-literario/
Transcrevo, como homenagem (que será sempre incompleta) um pequeno poema do Gigante (talvez não o mais expressivo mas, se a poesia tem ao menos uma vantagem, é o fato de poder "ser grande ou pequena" conforme o leitor). Ei-lo ("Sequência"):
Os bois mugem para a grande
solidão que os agasalha.
(Os homens acham na paz
do campo a paz que apunhala.)
Os cães uivam para a lua
um uivo fino e ofegante.
(Os homens padecem a lua
e a dor em canto se expande.)
Os gatos choram na noite
como em fundo sofrimento.
(Os homens padecem a noite
uma outra noite antevendo.)
As traças devoram a vida,
papirógrafos sem pressa.
(Os homens se dão aos livros
e a vida, como lhes pesa!)
Os ratos pelos armários
deixam apenas fragmentos.
(Os homens se dilaceram,
as próprias cinzas temendo.)
E a vida só se asserena,
se atenua, se aquieta,
quando num rosto cansado
sombra, apenas, se dispersa.
Poema retirado do livro "O Tecelão do Assombro" (Editora 7 Letras, 2000, p. 28)
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